HERA E ZEUS

JOHN DELVILLE

sábado, 27 de outubro de 2007

CARLOS NEJAR

Vim coabitar com os homens

E tentei ser humana.

Em alguns, surpreendi a maldade

Piores que os maus, os imbecis

Não descansam, nem deixam descansar

E tenho lutado para não ficar indignada.

Há um instante em que não tenho mais nome,

Sou todos, também os que calaram.

Animais, plantas, flores são palavras.

E se clareiam em nós, seguem adiante.

Forte, imbatível a palavra, com ressurreições

Nos ossos da alma.

Com o Bem sou poliglota e renasço todos

Os dias, recoberta de eternidade,

Que são as peles das manhãs.


(CARLOS NEJAR)

ALBERTO CAEIRO

Quando tornar a vir a primavera

Talvez já não me encontre no mundo.

Gostava agora de julgar

Que a primavera é gente

Para poder supor que ela choraria,

Vendo que perdera seu único amigo.

Mas a primavera nem sequer é uma coisa:

É uma maneira de dizer.

Nem mesmo as flores tornam,

Ou as folhas verdes.

Há outros dias suaves.

Nada torna, nada se repete,

Porque tudo é real.



(ALBERTO CAEIRO)

DANTE

Num coração nobre o amor sempre se abriga

como faz o pássaro na floresta sob os ramos,

E a natureza não criou o amor antes do

coração, nem o coração antes dele.

Desde que o sol apareceu, no mesmo

instante resplandeceu a luz,

que não foi a primeira.

O amor escolheu a nobreza

como habitação, assim como

o calor habita a luz do fogo.



(DANTE)

MANUEL BANDEIRA

Se queres sentir a felicidade de amar,

esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.

Só em Deus ela pode

encontrar satisfação.

Não noutra alma.

Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo estender-se

com outro corpo.

Porque os corpos se estendem,

mas as almas não.


(MANUEL BANDEIRA)

RENOIR

Para Renoir pintar era sinônimo de divertir-se... " para mim, um

quadro deve ser alegre e belo... já existem muitas coisas

desagradáveis na vida; pra que inventarmos mais?"

Apesar de enfrentar a doença e a pobreza e ter sua obra

rejeitada, seu trabalho não reflete angústias. Pintou quase

mil telas e é considerado o pintor da mulher; criou um tipo

original de mulher: a parisiense esbelta, risonha, vestida com

graça e um pouco ingênua.


" Gostaria que um vermelho soasse como a badalada de

sino. Se não fui capaz de fazer isso na primeira vez, ponho

mais vermelho e outras cores até tornar possível. Não sigo

regras nem métodos."

INSATISFAÇÕES

O ritmo normal da vida oscila entre uma leve

satisfação pessoal e um ligeiro desconforto,

que vem do conhecimento das nossas

fraquezas. Gostaríamos de ser tão bonitos,

jovens, fortes ou espertos como outras

pessoas. Estar contente consigo mesmo é

a exceção e, com frequência é uma cortina

de fumaça que criamos para nós mesmos e,

é claro, para os outros. Em algum ponto desta

cortina de fumaça existe um persistente

sentido de desconforto com nós mesmos e

um leve não-gostar de si próprio. Uma

intensidade maior deste sentimento de

insatisfação deixa a pessoa vulnerável e carente.

Esta intranquilidade pode ser inconsciente, mas

há momentos em que ela se torna consciente

na forma de inquietação ou uma estagnante

tristeza, um sentir-se incomodado sem

saber bem o por quê...


(YEDRA)

CARLOS NEJAR

Vai ser assim a morte: uma pedra que nos toca

e pronto. Simples desequilíbrio no organismo da

vida. E já nos vemos do outro lado. Somos despertos

e após, de luz em luz, estaremos sonhando?

Sim, nos apegamos cada vez mais às pequenas

coisas: a rosa, o orvalho. Porque sentimos a terra

e ela nos sente. E ao vincular-nos às pequenas

coisas, descobrimos quanto são fiéis e

prodigiosas. E nos tornam aptos para, depois

da morte, estarmos com as coisas

estupendamente grandes...



Carlos Nejar

FERREIRA GULLAR

(...) Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo

e pousa aos teus pés um candelabro cintilante.

Mas a paixão dura quanto tempo? Não importa.

O verdadeiro amor é suicida. O fundamental é saber

que ele acaba. O amor, para atingir a entrega total,

deve estar condenado - é a consciência da

precariedade do amor que possibilita mergulhar

de corpo e alma, vivê-lo enquanto morre e morrê-lo

enquanto vive. E é necessário que acabe como começou,

de golpe, entre soluços. E enxugados os olhos, aberta

a janela lá estão as mesmas nuvens rolando lentas

e sem barulho pelo céu deserto de anjos...


FERREIRA GULLAR

THOMAS CARLYLE

Que circunstância é vital e deve ficar destacada;

o que é essencial, digno de ser suprimido, onde

está o verdadeiro começo, a verdadeira sequência

e o fim. Para vislumbrar tudo isto, é preciso que o

homem use toda a força de visão que há nele.

Ele tem que compreender o que vê; e a justeza

da sua resposta será de acordo com a profundeza

da sua compreensão. É assim que o poreis à prova.


(THOMAS CARLYLE)