A IMAGEM DO VENTO
No princípio, desenvolveu a idéia de que o arco-íris era uma
ponte: aparecia sobre os barcos, no fim dos temporais, e o
marinheiro da gávea avistava uma mulher de cabelos de ouro,
agitados pelo vento, a atravessá-la; alguns desses marinheiros
enlouqueceram. Conheceu-os, durante os meses em que estudou
os costumes dos portos - sentavam-se à parte, nas tabernas, e
acendiam uma vela. Diziam que o brilho da chama evocava os
cabelos dourados dessa mulher; e que o azul do alcoól os fixava,
como um olhar celeste.
Tentou então viver essa experiência: embarcou num velho
cargueiro e, durante dois ou três anos, percorreu os mares.
Mas nunca encontrou a deusa; nem os arco-íris formavam o
arco completo da ponte que imaginara. Também ele enlouqueceu,
e dizem que sobe ao telhado da casa, nas noites
de temporal, e grita pelo sol, a quem dá um nome de mulher;
até ficar rouco e o trazerem para o quarto. Aí, até adormecer,
murmura esse nome sem corpo, sem imagem, sem luz.
Nuno Júdice
Nenhum comentário:
Postar um comentário