HERA E ZEUS

JOHN DELVILLE

terça-feira, 29 de abril de 2008

NUNO JÚDICE

A IMAGEM DO VENTO






No princípio, desenvolveu a idéia de que o arco-íris era uma

ponte: aparecia sobre os barcos, no fim dos temporais, e o

marinheiro da gávea avistava uma mulher de cabelos de ouro,

agitados pelo vento, a atravessá-la; alguns desses marinheiros

enlouqueceram. Conheceu-os, durante os meses em que estudou

os costumes dos portos - sentavam-se à parte, nas tabernas, e

acendiam uma vela. Diziam que o brilho da chama evocava os

cabelos dourados dessa mulher; e que o azul do alcoól os fixava,

como um olhar celeste.

Tentou então viver essa experiência: embarcou num velho

cargueiro e, durante dois ou três anos, percorreu os mares.

Mas nunca encontrou a deusa; nem os arco-íris formavam o

arco completo da ponte que imaginara. Também ele enlouqueceu,

e dizem que sobe ao telhado da casa, nas noites

de temporal, e grita pelo sol, a quem dá um nome de mulher;

até ficar rouco e o trazerem para o quarto. Aí, até adormecer,

murmura esse nome sem corpo, sem imagem, sem luz.



Nuno Júdice

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