Quantos reinos nos ignoram! O silêncio eterno destes
espaços infinitos me apavora!...
Que o homem tendo voltado a si considere o que é na
medida do que é; e que desta pequena prisão em que se
encontra colocado, o Universo, ele aprenda a estimar
a terra e seja mesmo sua justa medida. Que é o homem no
infinito? O que é o homem na natureza? Um nada em
relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um meio
entre nada e tudo. Infinitamente afastado de compreender
os extremos, o fim das coisas e seus princípios... igualmente
incapaz de ver o nada de onde foi tirado, e o infinito em que
está envolvido. Que fará então a não ser perceber alguma
aparência no meio das coisas, num desespero eterno de não
conhecer nem seu princípio nem seu fim.
(PASCAL)
terça-feira, 27 de novembro de 2007
FRANCIS PONGE
A PAISAGEM
O horizonte, sobrelinhado com acentos vaporosos,
parece escrito em pequenos caracteres, com tinta
mais ou menos pálida segundo os jogos de luz.
Do que está mais próximo, não usufruo mais
do que como de um quadro,
Do que está ainda mais próximo, do que como
de esculturas, ou arquiteturas,
A seguir, da própria realidade das coisas a meus pés,
como de alimentos, com uma sensação de verdadeira indigestão,
Até que finalmente em meu corpo tudo se engolfa e levanta vôo
pela cabeça, como que por chaminé que
desembocasse em pleno céu.
FRANCIS PONGE
O horizonte, sobrelinhado com acentos vaporosos,
parece escrito em pequenos caracteres, com tinta
mais ou menos pálida segundo os jogos de luz.
Do que está mais próximo, não usufruo mais
do que como de um quadro,
Do que está ainda mais próximo, do que como
de esculturas, ou arquiteturas,
A seguir, da própria realidade das coisas a meus pés,
como de alimentos, com uma sensação de verdadeira indigestão,
Até que finalmente em meu corpo tudo se engolfa e levanta vôo
pela cabeça, como que por chaminé que
desembocasse em pleno céu.
FRANCIS PONGE
terça-feira, 13 de novembro de 2007
SÊNECA
Você será avarento se conviver com homens
mesquinhos e avarentos.
Será vaidoso se conviver com homens arrogantes.
Jamais se livrará da crueldade se compartilhar
sua casa com um torturador.
Alimentará sua luxúria confraternizando-se
com os adúlteros. Se quer se livrar de seus vícios,
mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.
(Sêneca)
mesquinhos e avarentos.
Será vaidoso se conviver com homens arrogantes.
Jamais se livrará da crueldade se compartilhar
sua casa com um torturador.
Alimentará sua luxúria confraternizando-se
com os adúlteros. Se quer se livrar de seus vícios,
mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.
(Sêneca)
PASCAL
Todos os homens buscam a felicidade.
E não há exceção. Independentemente dos diversos
meios que empregam, o fim é o mesmo.
O que leva um homem a lançar-se à guerra
e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora
revestido de visões diferentes. O desejo só dá
o último passo com este fim. É isto que motiva
as ações de todos os homens, mesmo dos que
tiram a própria vida.
(PASCAL)
E não há exceção. Independentemente dos diversos
meios que empregam, o fim é o mesmo.
O que leva um homem a lançar-se à guerra
e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora
revestido de visões diferentes. O desejo só dá
o último passo com este fim. É isto que motiva
as ações de todos os homens, mesmo dos que
tiram a própria vida.
(PASCAL)
GABRIEL MARCEL
A existência do EU se efetua por um ato de vontade.
É na fidelidade ao outro que lhe alcanço
a existência. Fidelidade baseada no SER do outro.
Ela é a resposta ativa, é entrega generosa do
próprio ser aos outros seres que nos chamam,
nos reclamam, e assim, nos prendem.
Por isso, o
que nos abre à realidade externa não é o
conhecimento, mas sim o amor. Só o amor nos
abre aos outros e nos torna abertos e disponíveis
aos outros.
(Gabriel Marcel - filósofo existencialista)
É na fidelidade ao outro que lhe alcanço
a existência. Fidelidade baseada no SER do outro.
Ela é a resposta ativa, é entrega generosa do
próprio ser aos outros seres que nos chamam,
nos reclamam, e assim, nos prendem.
Por isso, o
que nos abre à realidade externa não é o
conhecimento, mas sim o amor. Só o amor nos
abre aos outros e nos torna abertos e disponíveis
aos outros.
(Gabriel Marcel - filósofo existencialista)
SÓCRATES
Excesso de entusiasmo pode confundir
os espíritos. Muitos sacrificam a vida
ao elogio, quando é evidentemente
o inverso que deveriam fazer. Essa
é uma evidência básica: é a própria
filosofia. Primeiro a verdade, que
não é submetida a nada. Mas tanto
o elogio como a crítica devem ser
submetidos à verdade. O amor à
verdade deve prevalecer sobre tudo
o mais, inclusive sobre o amor ao amor.
(SÓCRATES)
os espíritos. Muitos sacrificam a vida
ao elogio, quando é evidentemente
o inverso que deveriam fazer. Essa
é uma evidência básica: é a própria
filosofia. Primeiro a verdade, que
não é submetida a nada. Mas tanto
o elogio como a crítica devem ser
submetidos à verdade. O amor à
verdade deve prevalecer sobre tudo
o mais, inclusive sobre o amor ao amor.
(SÓCRATES)
ERICH FROMM
Ainda que conheçamos mil vezes mais sobre nós
mesmos, nunca alcançamos o fundo. Permaneceremos
ainda um enigma para nós próprios, como nossos
semelhantes continuarão sendo um enigma para nós.
O meio único de conhecimento completo está no ato
do amor: ele transcende o pensamento e as
palavras. É o mergulho ousado na experiência da
união. Mas conhecer-se a si mesmo e a outra pessoa
é essencial para superar as ilusões que temos.
Só conhecendo racionalmente um ser humano
poderei conhecê-lo em sua essência última,
no ato do amor.
(ERICH FROMM)
mesmos, nunca alcançamos o fundo. Permaneceremos
ainda um enigma para nós próprios, como nossos
semelhantes continuarão sendo um enigma para nós.
O meio único de conhecimento completo está no ato
do amor: ele transcende o pensamento e as
palavras. É o mergulho ousado na experiência da
união. Mas conhecer-se a si mesmo e a outra pessoa
é essencial para superar as ilusões que temos.
Só conhecendo racionalmente um ser humano
poderei conhecê-lo em sua essência última,
no ato do amor.
(ERICH FROMM)
SUN TSU
A prática de um homem culto se dá no sentido de se
auto-refinar pela quietude e desenvolver a virtude pela
frugalidade. Sem desapego, não há meio de se clarificar
a vontade; sem serenidade, não há como seguir adiante.
O estudo exige calma; o talento requer estudo. Sem o
estudo, não há como expandir o talento; sem calma,
não há como realizar o estudo. Se for indolente, não
conseguirá evoluir; se for impulsivo, não governará
a sua natureza. Os anos correm com as horas; as
aspirações voam com os anos.
SUN TSU
auto-refinar pela quietude e desenvolver a virtude pela
frugalidade. Sem desapego, não há meio de se clarificar
a vontade; sem serenidade, não há como seguir adiante.
O estudo exige calma; o talento requer estudo. Sem o
estudo, não há como expandir o talento; sem calma,
não há como realizar o estudo. Se for indolente, não
conseguirá evoluir; se for impulsivo, não governará
a sua natureza. Os anos correm com as horas; as
aspirações voam com os anos.
SUN TSU
CLARICE LISPECTOR
Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
Que a presença é pouco:
Quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
Para uma unificação inteira é um dos
Sentimentos mais urgentes
Que se tem na vida.
(CLARICE LISPECTOR)
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
Que a presença é pouco:
Quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
Para uma unificação inteira é um dos
Sentimentos mais urgentes
Que se tem na vida.
(CLARICE LISPECTOR)
MASTER KHANE
Não procures a verdade fora de ti,
Ela está em ti, em teu ser.
Não procures o conhecimento fora de ti,
Ele te aguarda em tua fé interior.
Não procures a paz fora de ti,
Ela está instalada em teu coração.
Não procures a felicidade fora de ti,
Ela habita em ti
Desde a eternidade.
MASTER KHANE
Ela está em ti, em teu ser.
Não procures o conhecimento fora de ti,
Ele te aguarda em tua fé interior.
Não procures a paz fora de ti,
Ela está instalada em teu coração.
Não procures a felicidade fora de ti,
Ela habita em ti
Desde a eternidade.
MASTER KHANE
MANUEL BANDEIRA
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
MANUEL BANDEIRA
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
MANUEL BANDEIRA
GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu
lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu
estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem,
mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação
inventado por mim para ocultar a desordem da minha
natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude,
e sim como reação contra a minha negligência; que pareço
generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço
passar por prudente quando na verdade sou desconfiado
e sempre penso o pior, que sou conciliador para não
sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual
para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo
alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da
alma e sim um signo do zodíaco.
(Gabriel Garcia Márquez)
lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu
estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem,
mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação
inventado por mim para ocultar a desordem da minha
natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude,
e sim como reação contra a minha negligência; que pareço
generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço
passar por prudente quando na verdade sou desconfiado
e sempre penso o pior, que sou conciliador para não
sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual
para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo
alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da
alma e sim um signo do zodíaco.
(Gabriel Garcia Márquez)
HENRY THOREAU
Esta vida não foi feita para ser lamentada,
mas para ser usufruída.
A vida é uma batalha na qual deveis
Mostrar vosso valor - e ai dos covardes!
O desespero e o adiamento são
Sinônimos de covardia e derrota.
Os homens nasceram para vencer,
não para fracassar...
Estais sujeito à matéria e ao tempo.
Há em vós pensamentos audazes,
se não vos valer-vos deles,
para que vos servirá então
O fogo que roubastes dos céus?
(HENRY THOREAU)
mas para ser usufruída.
A vida é uma batalha na qual deveis
Mostrar vosso valor - e ai dos covardes!
O desespero e o adiamento são
Sinônimos de covardia e derrota.
Os homens nasceram para vencer,
não para fracassar...
Estais sujeito à matéria e ao tempo.
Há em vós pensamentos audazes,
se não vos valer-vos deles,
para que vos servirá então
O fogo que roubastes dos céus?
(HENRY THOREAU)
sábado, 27 de outubro de 2007
CARLOS NEJAR
Vim coabitar com os homens
E tentei ser humana.
Em alguns, surpreendi a maldade
Piores que os maus, os imbecis
Não descansam, nem deixam descansar
E tenho lutado para não ficar indignada.
Há um instante em que não tenho mais nome,
Sou todos, também os que calaram.
Animais, plantas, flores são palavras.
E se clareiam em nós, seguem adiante.
Forte, imbatível a palavra, com ressurreições
Nos ossos da alma.
Com o Bem sou poliglota e renasço todos
Os dias, recoberta de eternidade,
Que são as peles das manhãs.
(CARLOS NEJAR)
E tentei ser humana.
Em alguns, surpreendi a maldade
Piores que os maus, os imbecis
Não descansam, nem deixam descansar
E tenho lutado para não ficar indignada.
Há um instante em que não tenho mais nome,
Sou todos, também os que calaram.
Animais, plantas, flores são palavras.
E se clareiam em nós, seguem adiante.
Forte, imbatível a palavra, com ressurreições
Nos ossos da alma.
Com o Bem sou poliglota e renasço todos
Os dias, recoberta de eternidade,
Que são as peles das manhãs.
(CARLOS NEJAR)
ALBERTO CAEIRO
Quando tornar a vir a primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de julgar
Que a primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam,
Ou as folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete,
Porque tudo é real.
(ALBERTO CAEIRO)
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de julgar
Que a primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam,
Ou as folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete,
Porque tudo é real.
(ALBERTO CAEIRO)
DANTE
Num coração nobre o amor sempre se abriga
como faz o pássaro na floresta sob os ramos,
E a natureza não criou o amor antes do
coração, nem o coração antes dele.
Desde que o sol apareceu, no mesmo
instante resplandeceu a luz,
que não foi a primeira.
O amor escolheu a nobreza
como habitação, assim como
o calor habita a luz do fogo.
(DANTE)
como faz o pássaro na floresta sob os ramos,
E a natureza não criou o amor antes do
coração, nem o coração antes dele.
Desde que o sol apareceu, no mesmo
instante resplandeceu a luz,
que não foi a primeira.
O amor escolheu a nobreza
como habitação, assim como
o calor habita a luz do fogo.
(DANTE)
MANUEL BANDEIRA
Se queres sentir a felicidade de amar,
esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode
encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo estender-se
com outro corpo.
Porque os corpos se estendem,
mas as almas não.
(MANUEL BANDEIRA)
esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode
encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo estender-se
com outro corpo.
Porque os corpos se estendem,
mas as almas não.
(MANUEL BANDEIRA)
RENOIR
Para Renoir pintar era sinônimo de divertir-se... " para mim, um
quadro deve ser alegre e belo... já existem muitas coisas
desagradáveis na vida; pra que inventarmos mais?"
Apesar de enfrentar a doença e a pobreza e ter sua obra
rejeitada, seu trabalho não reflete angústias. Pintou quase
mil telas e é considerado o pintor da mulher; criou um tipo
original de mulher: a parisiense esbelta, risonha, vestida com
graça e um pouco ingênua.
" Gostaria que um vermelho soasse como a badalada de
sino. Se não fui capaz de fazer isso na primeira vez, ponho
mais vermelho e outras cores até tornar possível. Não sigo
regras nem métodos."
quadro deve ser alegre e belo... já existem muitas coisas
desagradáveis na vida; pra que inventarmos mais?"
Apesar de enfrentar a doença e a pobreza e ter sua obra
rejeitada, seu trabalho não reflete angústias. Pintou quase
mil telas e é considerado o pintor da mulher; criou um tipo
original de mulher: a parisiense esbelta, risonha, vestida com
graça e um pouco ingênua.
" Gostaria que um vermelho soasse como a badalada de
sino. Se não fui capaz de fazer isso na primeira vez, ponho
mais vermelho e outras cores até tornar possível. Não sigo
regras nem métodos."
INSATISFAÇÕES
O ritmo normal da vida oscila entre uma leve
satisfação pessoal e um ligeiro desconforto,
que vem do conhecimento das nossas
fraquezas. Gostaríamos de ser tão bonitos,
jovens, fortes ou espertos como outras
pessoas. Estar contente consigo mesmo é
a exceção e, com frequência é uma cortina
de fumaça que criamos para nós mesmos e,
é claro, para os outros. Em algum ponto desta
cortina de fumaça existe um persistente
sentido de desconforto com nós mesmos e
um leve não-gostar de si próprio. Uma
intensidade maior deste sentimento de
insatisfação deixa a pessoa vulnerável e carente.
Esta intranquilidade pode ser inconsciente, mas
há momentos em que ela se torna consciente
na forma de inquietação ou uma estagnante
tristeza, um sentir-se incomodado sem
saber bem o por quê...
(YEDRA)
satisfação pessoal e um ligeiro desconforto,
que vem do conhecimento das nossas
fraquezas. Gostaríamos de ser tão bonitos,
jovens, fortes ou espertos como outras
pessoas. Estar contente consigo mesmo é
a exceção e, com frequência é uma cortina
de fumaça que criamos para nós mesmos e,
é claro, para os outros. Em algum ponto desta
cortina de fumaça existe um persistente
sentido de desconforto com nós mesmos e
um leve não-gostar de si próprio. Uma
intensidade maior deste sentimento de
insatisfação deixa a pessoa vulnerável e carente.
Esta intranquilidade pode ser inconsciente, mas
há momentos em que ela se torna consciente
na forma de inquietação ou uma estagnante
tristeza, um sentir-se incomodado sem
saber bem o por quê...
(YEDRA)
CARLOS NEJAR
Vai ser assim a morte: uma pedra que nos toca
e pronto. Simples desequilíbrio no organismo da
vida. E já nos vemos do outro lado. Somos despertos
e após, de luz em luz, estaremos sonhando?
Sim, nos apegamos cada vez mais às pequenas
coisas: a rosa, o orvalho. Porque sentimos a terra
e ela nos sente. E ao vincular-nos às pequenas
coisas, descobrimos quanto são fiéis e
prodigiosas. E nos tornam aptos para, depois
da morte, estarmos com as coisas
estupendamente grandes...
Carlos Nejar
e pronto. Simples desequilíbrio no organismo da
vida. E já nos vemos do outro lado. Somos despertos
e após, de luz em luz, estaremos sonhando?
Sim, nos apegamos cada vez mais às pequenas
coisas: a rosa, o orvalho. Porque sentimos a terra
e ela nos sente. E ao vincular-nos às pequenas
coisas, descobrimos quanto são fiéis e
prodigiosas. E nos tornam aptos para, depois
da morte, estarmos com as coisas
estupendamente grandes...
Carlos Nejar
FERREIRA GULLAR
(...) Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo
e pousa aos teus pés um candelabro cintilante.
Mas a paixão dura quanto tempo? Não importa.
O verdadeiro amor é suicida. O fundamental é saber
que ele acaba. O amor, para atingir a entrega total,
deve estar condenado - é a consciência da
precariedade do amor que possibilita mergulhar
de corpo e alma, vivê-lo enquanto morre e morrê-lo
enquanto vive. E é necessário que acabe como começou,
de golpe, entre soluços. E enxugados os olhos, aberta
a janela lá estão as mesmas nuvens rolando lentas
e sem barulho pelo céu deserto de anjos...
FERREIRA GULLAR
e pousa aos teus pés um candelabro cintilante.
Mas a paixão dura quanto tempo? Não importa.
O verdadeiro amor é suicida. O fundamental é saber
que ele acaba. O amor, para atingir a entrega total,
deve estar condenado - é a consciência da
precariedade do amor que possibilita mergulhar
de corpo e alma, vivê-lo enquanto morre e morrê-lo
enquanto vive. E é necessário que acabe como começou,
de golpe, entre soluços. E enxugados os olhos, aberta
a janela lá estão as mesmas nuvens rolando lentas
e sem barulho pelo céu deserto de anjos...
FERREIRA GULLAR
THOMAS CARLYLE
Que circunstância é vital e deve ficar destacada;
o que é essencial, digno de ser suprimido, onde
está o verdadeiro começo, a verdadeira sequência
e o fim. Para vislumbrar tudo isto, é preciso que o
homem use toda a força de visão que há nele.
Ele tem que compreender o que vê; e a justeza
da sua resposta será de acordo com a profundeza
da sua compreensão. É assim que o poreis à prova.
(THOMAS CARLYLE)
o que é essencial, digno de ser suprimido, onde
está o verdadeiro começo, a verdadeira sequência
e o fim. Para vislumbrar tudo isto, é preciso que o
homem use toda a força de visão que há nele.
Ele tem que compreender o que vê; e a justeza
da sua resposta será de acordo com a profundeza
da sua compreensão. É assim que o poreis à prova.
(THOMAS CARLYLE)
quinta-feira, 19 de julho de 2007
PARADOXO DA SABEDORIA
São muito raros no género humano os homens verdadeiramente sábios;
o concurso de condições e circunstâncias especiais necessário para
que os haja, ocorre com tanta dificuldade que não deve admirar a
sua raridade: demais a sua aparição pouco ou nada aproveita aos
outros homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes
de compreendê-los, e os obrigam finalmente ao silêncio, retiro e
reclusão.
(...) Não esperem os homens por, maior que seja o progresso da sua
inteligência, chegar a conhecer as verdades capitais e primitivas
sobre a essência e natureza das coisas: mudarão de erros, fábulas,
hipóteses e teorias, mas nunca poderão alcançar conhecimentos que
hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos do que
farão e do que são.
O mundo varia aos olhos e nas opiniões dos homens, conforme as
idades e condições da vida.
Marquês de Maricá, in 'Máximas, Pensamentos e Reflexões'
o concurso de condições e circunstâncias especiais necessário para
que os haja, ocorre com tanta dificuldade que não deve admirar a
sua raridade: demais a sua aparição pouco ou nada aproveita aos
outros homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes
de compreendê-los, e os obrigam finalmente ao silêncio, retiro e
reclusão.
(...) Não esperem os homens por, maior que seja o progresso da sua
inteligência, chegar a conhecer as verdades capitais e primitivas
sobre a essência e natureza das coisas: mudarão de erros, fábulas,
hipóteses e teorias, mas nunca poderão alcançar conhecimentos que
hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos do que
farão e do que são.
O mundo varia aos olhos e nas opiniões dos homens, conforme as
idades e condições da vida.
Marquês de Maricá, in 'Máximas, Pensamentos e Reflexões'
MASSIFICAÇÃO DO HOMEM
A tragédia é a cristalização da massa humana, tão perigosa
como a estagnação do espírito do homem que se torna académico
ou fenece por falta de entusiasmo.
E estou absolutamente crente que do naufrágio calamitoso apenas
se hão-de salvar os que pela porta do cavalo fugirem ao triturar
das grandes colectividades humanas, ou os que por força invencíve
l e instintiva se libertarem para uma nova categoria de homem, ou,
melhor dizendo, para a sua verdadeira categoria de homem,
de homem-pensamento, na linha directa de um Platão,
de um Homero, de um Aristófanes, de um Plutarco.
A humanidade dá-nos, assim, um triste espectáculo de andar
para trás, melhora em lepra social, colectiviza-se e baixa
logo na escala humana.
Ruben A., in 'O Mundo À Minha Procura I'
como a estagnação do espírito do homem que se torna académico
ou fenece por falta de entusiasmo.
E estou absolutamente crente que do naufrágio calamitoso apenas
se hão-de salvar os que pela porta do cavalo fugirem ao triturar
das grandes colectividades humanas, ou os que por força invencíve
l e instintiva se libertarem para uma nova categoria de homem, ou,
melhor dizendo, para a sua verdadeira categoria de homem,
de homem-pensamento, na linha directa de um Platão,
de um Homero, de um Aristófanes, de um Plutarco.
A humanidade dá-nos, assim, um triste espectáculo de andar
para trás, melhora em lepra social, colectiviza-se e baixa
logo na escala humana.
Ruben A., in 'O Mundo À Minha Procura I'
O RITMO DO TEMPO
Afinal também não importa que o ritmo das coisas tenha sido o mesmo, se todas as coisas existem para um ritmo que lhes é íntimo à sua própria expressão de coisas. Houve sábados e domingos sextas e quintas segundas e terças e sempre uma quarta-feira a comandar no equilíbrio do princípio e do fim. Com os dedos mataram-se formigas que estavam fáceis ao alcance de um piparote e através das mãos fizemos a construção de novos dias. Cada um de nós teve uma história mais ou menos grande e mais ou menos importante para contar no seu íntimo. Às vezes eu lá encontrava um de nós para logo ter a impressão que se apoderava de todos uma moléstia sentimental de visão acabrunhada e de história em história ou de pieguice para pieguice caminhávamos inúteis no amorfo de abatjours contemplativos.
Ruben A., in 'Caranguejo'
Ruben A., in 'Caranguejo'
quarta-feira, 11 de julho de 2007
A ARTE DE CONVERSAR
O que faz com que poucas pessoas sejam agradáveis
na conversação é que cada uma pensa mais no que tem
a intenção de dizer do que naquilo que as outras
dizem, e que não se escuta às demais quando se tem
vontade de falar.
Para agradar aos outros é preciso falar daquilo de
que eles gostam e que os interessa, evitar as
discussões sobre coisas indiferentes, formular-lhes
raramente perguntas e não os deixar crer que se pretende
ter mais razão que eles.
Evitemos sobretudo falar frequentemente de nós mesmos
e de nos darmos como exemplo. Nada é mais desagradável
do que uma pessoa que se cita a si mesma a cada passo.
La Rochefoucauld, in 'Reflexões Diversas'
na conversação é que cada uma pensa mais no que tem
a intenção de dizer do que naquilo que as outras
dizem, e que não se escuta às demais quando se tem
vontade de falar.
Para agradar aos outros é preciso falar daquilo de
que eles gostam e que os interessa, evitar as
discussões sobre coisas indiferentes, formular-lhes
raramente perguntas e não os deixar crer que se pretende
ter mais razão que eles.
Evitemos sobretudo falar frequentemente de nós mesmos
e de nos darmos como exemplo. Nada é mais desagradável
do que uma pessoa que se cita a si mesma a cada passo.
La Rochefoucauld, in 'Reflexões Diversas'
terça-feira, 10 de julho de 2007
NIETZSCHE
Com a força do seu olhar intelectual e da sua penetração espiritual cresce a distância e, de certo modo, o espaço que circunda o homem: o seu mundo torna-se mais profundo, avistam-se continuamente estrelas novas, imagens novas e novos enigmas. Talvez tudo aquilo em que o olhar do espírito exercitou a sua sagacidade e profundeza tenha sido apenas um pretexto para este exercício, um jogo e uma criancice e infantilidade. E talvez um dia os conceitos mais solenes, os que provocaram maiores lutas e maiores sofrimentos, os conceitos de "Deus" e do "pecado", não signifiquem, para nós, mais do que um brinquedo e um desporto de criança significam para um velho, - e talvez o "velho homem" tenha, então, necessidade de um outro brinquedo ainda e de um outro desgosto, - por continuar a ser muito criança, eterna criança!
Friedrich Nietzsche (Para Além de Bem e Mal)
Friedrich Nietzsche (Para Além de Bem e Mal)
segunda-feira, 9 de julho de 2007
TUDO É FUGAZ
Considera com frequência a rapidez com que se passam
e desaparecem os seres e os acontecimentos.
A substância, como um rio, está em perpétuo fluir,
as forças em perpétuas mudanças, as causas a
modificarem-se de mil maneiras;
apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés
o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.
Como não há-de ser louco o homem que, neste meio,
se incha ou se encrespa ou se lamenta,
como se qualquer coisa o tivesse perturbado
durante um tempo que se visse,
um tempo considerável?
Marco Aurélio (Imperador Romano), in "Pensamentos"
e desaparecem os seres e os acontecimentos.
A substância, como um rio, está em perpétuo fluir,
as forças em perpétuas mudanças, as causas a
modificarem-se de mil maneiras;
apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés
o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.
Como não há-de ser louco o homem que, neste meio,
se incha ou se encrespa ou se lamenta,
como se qualquer coisa o tivesse perturbado
durante um tempo que se visse,
um tempo considerável?
Marco Aurélio (Imperador Romano), in "Pensamentos"
DECIDIR E AGIR - ARISTÓTELES
Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa,
pois, a ação voluntária é um fenómeno mais abrangente.
É por essa razão que ainda que tanto as crianças como
os outros seres vivos possam participar na ação voluntária,
não podem, contudo, participar na decisão.
Também dizemos que as ações voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão.
Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção,
ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo corretamente,
porque os animais irracionais não tomam parte nela.
Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e,
desse modo, não age de acordo com uma decisão.
Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão,
mas não age, ao sentir um desejo.
Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá
opor-se a um outro desejo.
O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável.
A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável.
Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'
pois, a ação voluntária é um fenómeno mais abrangente.
É por essa razão que ainda que tanto as crianças como
os outros seres vivos possam participar na ação voluntária,
não podem, contudo, participar na decisão.
Também dizemos que as ações voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão.
Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção,
ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo corretamente,
porque os animais irracionais não tomam parte nela.
Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e,
desse modo, não age de acordo com uma decisão.
Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão,
mas não age, ao sentir um desejo.
Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá
opor-se a um outro desejo.
O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável.
A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável.
Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'
AMOR FORA DE CONTROLE
É propriedade do amor o ser violento; e é propriedade
da violência o não durar. O amor acaba-se em nós,
não por nossa vontade, mas porque tem por natureza
o acabar; e ainda que tudo há-de acabar connosco,
nem tudo espera por nós. Quando amamos, é por força,
porque a fermosura que nos inclina, nos vence; e também
é por força quando não amamos; porque uma vez rotos
os laços, ficamos de tal sorte livres, que ainda que queiramos,
não podemos tornar a eles; e assim não está na nossa mão
o não amar, nem também o amar; o coração por si mesmo
se acende, e entibiece; nós, não o podemos inflamar,
nem extinguir-lhe o ardor.
Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'
da violência o não durar. O amor acaba-se em nós,
não por nossa vontade, mas porque tem por natureza
o acabar; e ainda que tudo há-de acabar connosco,
nem tudo espera por nós. Quando amamos, é por força,
porque a fermosura que nos inclina, nos vence; e também
é por força quando não amamos; porque uma vez rotos
os laços, ficamos de tal sorte livres, que ainda que queiramos,
não podemos tornar a eles; e assim não está na nossa mão
o não amar, nem também o amar; o coração por si mesmo
se acende, e entibiece; nós, não o podemos inflamar,
nem extinguir-lhe o ardor.
Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'
SCHOPENHAUER
"O esforço sem fim nem descanso em todos os graus
de objetividade em que o mundo consiste;
as múltiplas formas sucessivas em gradação;
a manifestação total da vontade; e, finalmente,
as formas universais dessa manifestação, tempo e espaço,
e também a sua última forma fundamental, sujeito e objeto,
tudo fica abolido.
Nem vontade, nem ideia, nem mundo.
Temos perante nós apenas o nada."
SCHOPENHAUER
de objetividade em que o mundo consiste;
as múltiplas formas sucessivas em gradação;
a manifestação total da vontade; e, finalmente,
as formas universais dessa manifestação, tempo e espaço,
e também a sua última forma fundamental, sujeito e objeto,
tudo fica abolido.
Nem vontade, nem ideia, nem mundo.
Temos perante nós apenas o nada."
SCHOPENHAUER
GOETHE - FAUSTO
Eu sou Mephistópheles. Mephistópheles, é o diabo. E todos vocês são Faustos. Faustos, os que vendem a alma ao diabo.
Tudo é vaidade neste mundo vão, tudo é tristeza, é pop, é nada. Quem acredita em sonhos é porque já tem a alma morta. O mal da vida cabe entre nossos braços e abraços.
Mas eu não sou o que vocês pensam. Eu não sou exatamente o que as Igrejas pensam. As Igrejas abominam-me. Deus me criou para que eu o imitasse de noite. Ele é o Sol, eu sou a Lua.
A minha luz paira sobre tudo que é fútil: margens de rios, pântanos, sombras.
Quantas vezes vocês viram passar uma figura velada, rápida, figura que lhe darei toda felicidade. Figura que te beijaria indefinidamente. Era eu. Sou eu.
Eu sou aquele que sempre procuraste e nunca poderá achar. Os problemas que atormentam os Deuses. Quantas vezes Deus me disse citando João Cabral de Melo Neto: Ai de mim, ai de mim. Quem sou eu?
Quantas vezes Deus me disse: Meu irmão, eu não sei quem eu sou.
Senhores, venham até mim, venham até mim, venham. Eu os deixarei em rodopios fascinantes, vivos nos castelos e nas trevas, e nas trevas vocês verão todo o esplendor.
De que adianta vocês viverem em casa como vocês vivem? De que adianta pagar as contas no fim do mês religiosamente, as contas de luz, gás, telefone, condomínio, IPTU?
Todos vocês são Faustos. Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem através de uma rasa e vã mediocridade, que é o que vocês merecem.
As suas bem humanas insaciabilidade, terão lábios, manjares, bebidas.
É difícil encontrar quem não queira vender sua alma ao diabo.
As últimas palavras de Goethe ao morrer foram: Luz, luz, mais luz!!
(GOETHE)
Tudo é vaidade neste mundo vão, tudo é tristeza, é pop, é nada. Quem acredita em sonhos é porque já tem a alma morta. O mal da vida cabe entre nossos braços e abraços.
Mas eu não sou o que vocês pensam. Eu não sou exatamente o que as Igrejas pensam. As Igrejas abominam-me. Deus me criou para que eu o imitasse de noite. Ele é o Sol, eu sou a Lua.
A minha luz paira sobre tudo que é fútil: margens de rios, pântanos, sombras.
Quantas vezes vocês viram passar uma figura velada, rápida, figura que lhe darei toda felicidade. Figura que te beijaria indefinidamente. Era eu. Sou eu.
Eu sou aquele que sempre procuraste e nunca poderá achar. Os problemas que atormentam os Deuses. Quantas vezes Deus me disse citando João Cabral de Melo Neto: Ai de mim, ai de mim. Quem sou eu?
Quantas vezes Deus me disse: Meu irmão, eu não sei quem eu sou.
Senhores, venham até mim, venham até mim, venham. Eu os deixarei em rodopios fascinantes, vivos nos castelos e nas trevas, e nas trevas vocês verão todo o esplendor.
De que adianta vocês viverem em casa como vocês vivem? De que adianta pagar as contas no fim do mês religiosamente, as contas de luz, gás, telefone, condomínio, IPTU?
Todos vocês são Faustos. Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem através de uma rasa e vã mediocridade, que é o que vocês merecem.
As suas bem humanas insaciabilidade, terão lábios, manjares, bebidas.
É difícil encontrar quem não queira vender sua alma ao diabo.
As últimas palavras de Goethe ao morrer foram: Luz, luz, mais luz!!
(GOETHE)
sábado, 7 de julho de 2007
A NECESSIDADE DO OUTRO
Os homens sempre tiveram muita necessidade
de se amarem uns aos outros.
Construíram esse amor como construíram pontes.
Foram necessárias abóbadas sonoras para tornar
a multidão mais presente para a multidão;
e palavras incompreensíveis para que se cantasse
com todo o coração; e uma música bem ritmada,
para que todos pudessem dizer as mesmas coisas
ao mesmo tempo.
(...) Só querer relacionar-se com aqueles que se aprovam
em tudo é quimérico, e é o próprio fanatismo.
Alain, in 'Considerações II'
de se amarem uns aos outros.
Construíram esse amor como construíram pontes.
Foram necessárias abóbadas sonoras para tornar
a multidão mais presente para a multidão;
e palavras incompreensíveis para que se cantasse
com todo o coração; e uma música bem ritmada,
para que todos pudessem dizer as mesmas coisas
ao mesmo tempo.
(...) Só querer relacionar-se com aqueles que se aprovam
em tudo é quimérico, e é o próprio fanatismo.
Alain, in 'Considerações II'
QUE TEMPO É O NOSSO?
Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor.
Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que
era nobre foi degradado.
Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando
a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é
o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá
conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem.
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição,
morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem!
Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer
doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral,
que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade
se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito
e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto
reduzir o homem a um fragmento do homem.
Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão.
Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio'
Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que
era nobre foi degradado.
Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando
a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é
o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá
conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem.
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição,
morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem!
Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer
doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral,
que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade
se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito
e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto
reduzir o homem a um fragmento do homem.
Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão.
Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio'
sexta-feira, 6 de julho de 2007
A MELHOR COMPANHIA
Considero saudável estar só na maior parte do tempo.
Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se
torna enfadonho e dispersivo.
Adoro estar só.
Nunca encontrei um companheiro tão sociável
como a solidão. Estamos geralmente mais sós
quando viajamos com outros homens do que quando
permanecemos nos nossos aposentos.
Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só,
deixai-o pois estar onde ele deseja.
A solidão não é medida pelas milhas de espaço
que separam um homem e os seus congéneres.
Henry David Thoreau, in 'Walden'
Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se
torna enfadonho e dispersivo.
Adoro estar só.
Nunca encontrei um companheiro tão sociável
como a solidão. Estamos geralmente mais sós
quando viajamos com outros homens do que quando
permanecemos nos nossos aposentos.
Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só,
deixai-o pois estar onde ele deseja.
A solidão não é medida pelas milhas de espaço
que separam um homem e os seus congéneres.
Henry David Thoreau, in 'Walden'
JOHN LOCKE
Aquele que se tenha erguido acima do cesto das esmolas
e não se tenha contentado em viver ociosamente das
sobras de opiniões suplicadas, que pôs a funcionar
os seus próprios pensamentos para encontrar e seguir a
verdade, não deixará de sentir a satisfação do caçador;
cada momento da sua busca recompensará os seus
dissabores com algum prazer; e terá razões para pensar
que o seu tempo não foi mal gasto, mesmo quando não
se puder gabar de nenhuma aquisição especial.
John Locke, in 'Ensaio Sobre o Entendimento Humano'
e não se tenha contentado em viver ociosamente das
sobras de opiniões suplicadas, que pôs a funcionar
os seus próprios pensamentos para encontrar e seguir a
verdade, não deixará de sentir a satisfação do caçador;
cada momento da sua busca recompensará os seus
dissabores com algum prazer; e terá razões para pensar
que o seu tempo não foi mal gasto, mesmo quando não
se puder gabar de nenhuma aquisição especial.
John Locke, in 'Ensaio Sobre o Entendimento Humano'
IDEAIS FATAIS
Não há ideal a que possamos sacrificar-nos,
porque de todos eles conhecemos a mentira,
nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade.
A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses
de mármore basta para nos afastar deles.
Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio!
Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas
estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para
que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos
outrora amados? Compreender não significa necessariamente
aceitar todas as loucuras. E, no entanto, quantos sacrifícios,
quantos heroísmos injustificados dormem em nós...
André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'
porque de todos eles conhecemos a mentira,
nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade.
A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses
de mármore basta para nos afastar deles.
Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio!
Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas
estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para
que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos
outrora amados? Compreender não significa necessariamente
aceitar todas as loucuras. E, no entanto, quantos sacrifícios,
quantos heroísmos injustificados dormem em nós...
André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'
NINGUÉM MORRE ANTES DA HORA
Uma pessoa viveu longo tempo e no entanto pouco viveu;
atentai para isso enquanto estais aqui.
Terdes vivido o bastante depende da vossa vontade,
não do número de anos. Pensáveis nunca chegar aonde
estáveis indo incessantemente? E no entanto não há caminho
que não tenha o seu fim. E, se a companhia vos pode consolar,
não vai o mundo no mesmo passo em que ides?
Todas as coisas seguir-vos-ão na morte (Lucrécio).
Tudo não dança a vossa dança? Há coisa que não envelheça convosco?
Mil homens, mil animais e mil outras criaturas morrem nesse mesmo
instante em que morreis: Pois nunca a noite sucedeu ao dia,
nem a aurora à noite, sem ouvir, mesclados aos vagidos da criança,
os gritos de dor que acompanham a morte
e os negros funerais (Lucrécio).
Michel de Montaigne, in 'Ensaios'
atentai para isso enquanto estais aqui.
Terdes vivido o bastante depende da vossa vontade,
não do número de anos. Pensáveis nunca chegar aonde
estáveis indo incessantemente? E no entanto não há caminho
que não tenha o seu fim. E, se a companhia vos pode consolar,
não vai o mundo no mesmo passo em que ides?
Todas as coisas seguir-vos-ão na morte (Lucrécio).
Tudo não dança a vossa dança? Há coisa que não envelheça convosco?
Mil homens, mil animais e mil outras criaturas morrem nesse mesmo
instante em que morreis: Pois nunca a noite sucedeu ao dia,
nem a aurora à noite, sem ouvir, mesclados aos vagidos da criança,
os gritos de dor que acompanham a morte
e os negros funerais (Lucrécio).
Michel de Montaigne, in 'Ensaios'
quinta-feira, 5 de julho de 2007
O QUE SE PODE PROMETER
Pode-se prometer acções, mas não sentimentos, pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas o que pode perfeitamente prometer são aquelas acções que, na verdade, são geralmente as consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas que também podem emanar de outras razões, pois a uma acção conduzem diversos caminhos e motivos. A promessa de amar sempre alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, manifestar-te-ei as acções do amor; se eu já não te amar, pois, não obstante, receberás para sempre de mim as mesmas acções, ainda que por outros motivos. De modo que a aparência de que o amor estaria inalterado e continuaria sendo o mesmo permanece na cabeça das outras pessoas. Promete-se, por conseguinte, a persistência da aparência do amor, quando, sem ilusão, se promete a alguém amor perpétuo.
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'
NUNCA SE ESCREVE PARA SI MESMO
O escritor não prevê nem conjectura: projecta. Acontece por vezes que espera por si mesmo, que espera pela inspiração, como se diz. Mas não se espera por si mesmo como se espera pelos outros; se hesita, sabe que o futuro não está feito, que é ele próprio que o vai fazer, e, se não sabe ainda o que acontecerá ao herói, isto quer simplesmente dizer que não pensou nisso, que não decidiu nada; então, o futuro é uma página branca, ao passo que o futuro do leitor são as duzentas páginas sobrecarregadas de palavras que o separam do fim. Assim, o escritor só encontra por toda a parte o seu saber, a sua vontade, os seus projectos, em resumo, ele mesmo; atinge apenas a sua própria subjectividade; o objecto que cria está fora de alcance; não o cria para ele. Se relê o que escreveu, já é demasiado tarde; a sua frase nunca será a seus olhos exactamente uma coisa. Vai até aos limites do subjectivo, mas sem o transpor; aprecia o efeito dum traço, duma máxima, dum adjectivo bem colocado; mas é o efeito que produzirão nos outros; pode avaliá-lo, mas não senti-lo.
Não é portanto verdade que se escreva para si mesmo: seria o pior fracasso; ao projectar as emoções no papel, a custo se conseguiria dar-lhes um prolongamento langoroso.
Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito. Só há arte para os outros e pelos outros.
( JEAN PAUL SARTRE)
Não é portanto verdade que se escreva para si mesmo: seria o pior fracasso; ao projectar as emoções no papel, a custo se conseguiria dar-lhes um prolongamento langoroso.
Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito. Só há arte para os outros e pelos outros.
( JEAN PAUL SARTRE)
AMOR SEM AMAR - PLATÃO
Os amantes arrependem-se do bem que fizeram, quando o seu desejo já se exinguiu,
ao passo que aqueles que não têm amor nunca tiveram a oportunidade de se arrepender;
pois não é sob o jugo da paixão, mas voluntariamente, e conduzindo bem os seus interesses,
sem ultrapassar os limites dos seus próprios recursos, que eles fazem bem ao amigo.
Além disso, os amantes repassam na mente os danos que o amor lhes causou nos negócios
e as liberalidades que eles fizeram, e, acrescentando a isso a dor que sentiram, julgam que
há muito tempo que têm vindo a pagar o preço dos favores obtidos. Já aqueles que não estão apaixonados não podem nem usar como pretexto os seus negócios negligenciados por causa
do amor, nem alegar as intrigas dos familiares, de modo que, isentos de todos esses aborrecimentos, eles só têm que se empenhar em fazer tudo o que acham que deve
agradar ao seu bem-amado.
Platão, in 'Fedro'
ao passo que aqueles que não têm amor nunca tiveram a oportunidade de se arrepender;
pois não é sob o jugo da paixão, mas voluntariamente, e conduzindo bem os seus interesses,
sem ultrapassar os limites dos seus próprios recursos, que eles fazem bem ao amigo.
Além disso, os amantes repassam na mente os danos que o amor lhes causou nos negócios
e as liberalidades que eles fizeram, e, acrescentando a isso a dor que sentiram, julgam que
há muito tempo que têm vindo a pagar o preço dos favores obtidos. Já aqueles que não estão apaixonados não podem nem usar como pretexto os seus negócios negligenciados por causa
do amor, nem alegar as intrigas dos familiares, de modo que, isentos de todos esses aborrecimentos, eles só têm que se empenhar em fazer tudo o que acham que deve
agradar ao seu bem-amado.
Platão, in 'Fedro'
BERTRAND RUSSELL
Às vezes eu tenho a visão de um mundo de
seres humanos felizes, vigorosos, inteligentes,
nenhum opressor, nenhum oprimido.
A humanidade inteira é uma única família, e
podemos ser todos felizes ou todos miseráveis.
Passou o tempo em que podia existir uma
minoria feliz vivendo sobre a miséria da
grande maioria. Isto se foi para sempre.
As pessoas não o aceitam mais; por isso
devemos aprender a tolerar a felicidade do
próximo.
(BERTRAND RUSSELL)
seres humanos felizes, vigorosos, inteligentes,
nenhum opressor, nenhum oprimido.
A humanidade inteira é uma única família, e
podemos ser todos felizes ou todos miseráveis.
Passou o tempo em que podia existir uma
minoria feliz vivendo sobre a miséria da
grande maioria. Isto se foi para sempre.
As pessoas não o aceitam mais; por isso
devemos aprender a tolerar a felicidade do
próximo.
(BERTRAND RUSSELL)
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