HERA E ZEUS

JOHN DELVILLE

sexta-feira, 4 de julho de 2008

HENRY MILLER

Em um sentido profundo adiamos a ação para sempre.

Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para

nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas

próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.

Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse

confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar

até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da

vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.

O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.

É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e

fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que

vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,

portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa

a nossa imagem diante do espelho da nossa própria

iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo

menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar

com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.

Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da

imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,

inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o

lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe

deu origem.



HENRY MILLER

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